(o\_!_/o) Diário de um Fusca





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  • quarta-feira, setembro 13, 2006

    Fábricas de tranqueiras ou Um negócio da China

    Pequenas indústrias multiplicam seus lucros com a produção de peças para carros velhos que ainda rodam no país

    PRODUÇÃO Na IGP, 60% das peças são para carros velhos
    O Fusca é 65, mas o pára-lama pode estar tinindo de novo. Os velhinhos da frota brasileira não são abastecidos somente com peças encontradas em desmanche ou ferro-velho, como muita gente imagina. Há fábricas ganhando bom dinheiro com linhas de produção que operam a pleno vapor exclusivamente para automóveis com mais de 16 anos. De olho em um mercado de 4,4 milhões de veículos, ou 21% do total em circulação no país, indústrias se dedicam à fabricação de carburadores, lanternas e todo tipo de artigos para modelos que há muito perderam o glamour. 'É um filão abandonado pelas montadoras', explica Deise Schiavon Segalla, coordenadora do Sindipeças, sindicato do setor.
    A Cabel, por exemplo, localizada em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, há 40 anos vive da fabricação de pára-choques de ferro. Com 42 funcionários, entrega 27 mil unidades por mês para veículos como Brasília, Corcel, Chevette, Del Rey e Fusca, o carro-chefe da empresa. Além de ser responsável por mais da metade da produção, o pára-choque do principal modelo da Volkswagen até os anos 80 é exportado para países como México, Bélgica e Inglaterra. 'O mercado de carros antigos está garantido por ainda muitos anos', afirma Marisa Farah, diretora da Cabel. Na concorrente DTS, a diretora-comercial Paula Franco faz eco: 'É um nicho forte para ser desprezado'. No caso da DTS, quetambém fornece peças para modelos novos, representa 43% das vendas.
    Os carros fora de linha respondem por cerca de 30% do faturamento do setor de reposição, que no ano passado movimentou cerca de US$ 2,3 bilhões, estima a Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças. 'Como os velhinhos não têm conforto, sua mecânica é fácil', argumenta Geraldo Santo Mauro, presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo.
    PRODUÇÃO Na Cabel, de Marisa Farah, o pára-choque de ferro do Fusca é líder de vendas
    Traçar um perfil preciso do universo dos carros velhos não é tarefa fácil. Muitos deles estão com a documentação desatualizada e rodam na ilegalidade, sobretudo nas periferias das grandes cidades e no interior do Brasil. No mercado de compra e venda, Fusca e Brasília são os modelos mais procurados, pela resistência, manutenção barata e grande oferta de peças de reposição. Chegam a valer mais que modelos de luxo do mesmo período: enquanto um Alfa Romeo JK da década de 70 custa em média R$ 2 mil, um Fusca da mesma idade e em boas condições não sai por menos de R$ 2.800. O modelo da VW foi fabricado por mais de 30 anos no Brasil e, dos 3 milhões produzidos, mais de 300 mil continuam na ativa.
    A IGP aposta tanto no filão dos antigos que, mesmo depois da aposentadoria do Fusca pela Volkswagen, investiu na modernização da linha de fabricação do pára-lama do modelo. 'Antes eram necessários 22 empregados para fazer a peça. Hoje esse número caiu pela metade', explica Ricardo Cicarelli, diretor-comercial da empresa. A iniciativa faz sentido: dos 20% da produção destinados à exportação, o pára-lama responde por mais de dois terços.
    Atraente e lucrativo, o mercado tem recebido até gente nova. No ano passado, Diego Victorica e dois sócios criaram a MetalPartes, especializada em lataria. A venda ainda está restrita ao mercado interno, mas a expectativa dos proprietários é, no prazo de um ano, chegar a países como Venezuela, Marrocos, Equador, México e Argentina. A fábrica produz por mês 4 mil assoalhos de Fusca e cerca de 800 de Brasília. 'Em dois anos teremos tudo o que investimos de volta', afirma Victorica.
    Há espaço até para nichos específicos, como atesta Ésio Carbonari Júnior, proprietário da Mikron Plast, em São Caetano. De forma quase artesanal, a empresa produz mensalmente 3 mil lanternas para o Fusca 'Fafá', lançado em 1979. 'Ao contrário do que pode parecer, a atividade é bem rentável', garante.
    Entre os gigantes, apenas a General Motors não descuidou do filão. Mantém em Mogi das Cruzes uma fábrica com 600 empregados voltada para os modelos fora de linha da montadora. Produz cerca de 75 mil peças por mês e fatura R$ 15 milhões por ano. 'Esse mercado ainda tem muito a render', afirma Antônio Carlos Braga, diretor da unidade de Mogi.